domingo, 14 de março de 2010

SEM EXPECTATIVAS

Meninas, eu estou tentando retornar. No início da semana estava bem animada em consequência da noite do Oscar. A presença do Gerry é sempre tão deliciosa e vê-lo dá um calor agradável no coração. Na segunda de manhã já comecei a preparar um post mas não deu tempo de finalizá-lo. Aí a rotina de stress e cansaço começou novamente e eu perdi o pique. Em relação ao meu trabalho, segunda-feira foi o ponto limite que eu dei ao meu stress. Não vou me importar com absolutamente mais nenhuma picuinha, nenhuma calúnia, nenhuma mentira que venha cair sobre mim. Eu simplesmente passei a ignorar completamente essa pessoa desagradável que tem prazer em me prejudicar. Simplesmente coloquei-a no gelo. Antes, apesar de tudo o que passei, eu ainda tentava relevar e esquecer e não ir pelo lado pessoal. Nunca foi pessoal para mim mas foi pessoal para ela desde o início. É fácil alguém ganhar a minha amizade mas ganhar o meu desprezo é muito mais intenso, mais forte. A minha amizade é eterna e o desprezo também. Pensei que poderia voltar ao blog no fim de semana quando teria mais tempo mas eu não imaginava o golpe que veria. Levantei e deixei meus dois cachorros sairem um pouco enquanto eu terminava de me arrumar para ir para meu curso. Eu sempre os deixava sair um pouquinho antes de levá-los para a casa da minha mãe onde ficam durante o dia. De repente ouço um cachorro ganindo. Desci as escadas correndo imaginando ser o Fred, o meu vira-lata bagunceiro e atrevido. Quando desci deparei com Velda, minha vira-latinha querida, o animal mais doce que já vi em minha vida. Ela havia sido atropelada e chorava no portão. A princípio imaginei que não fosse nada grave pois eu só vi duas marcas como arranhões em suas patas traseiras. Mas quando tentei tocá-la ela me mordeu com força. Aquela reação me assustou de uma maneira e foi aí que me dei conta da gravidade da situação. A Velda nunca em toda sua vida mordeu ninguém e jamais faria isso comigo. A doçura daquela cachorra era algo nunca visto. Tirei o carro rapidamente e uma vizinha coloca-a no banco para mim. Ela não gemia, nem chorava. Ela nunca reclamava de absolutamente nada. Durante o caminho até o veterinário percebi um movimento estranho de seus olhos e ao tocá-la senti seu corpo mais frio. Um desespero imenso se abateu sobre mim e eu chamava por ela. O consultório habitual em que eu a levava ainda estava fechado e fui até um outro que é 24hs e perto dali. Olhei para ela e ela deu um suspiro profundo e se esticou. Cheguei lá em desespero, chorando. Orientada pelo manobrista fui até a recepção: "Moço, pelo amor de Deus, minha cachorra foi atropelada e acho que ela está morrendo". Ele saiu para pegá-la e quando voltou, passou correndo com ela nos braços. Eu me desesperei ao ver o corpinho mole, totalmente inerte. Passei mais ou menos meia-hora lá chorando desesperada até que um rapaz veio me chamar. Entrei numa sala de consulta esperando encontrá-la e quando o veterinário entrou foi para me dizer que ela havia morrido. A morte da Velda também acabou marcando outro momento em minha vida. O momento em que eu abandonei todo e qualquer tipo de plano ou sonho em relação ao futuro. No dia 24 de dezembro de 2008 a Pipoca, uma cachorrinha da minha irmã desapareceu. No ano de 2009 dois cachorros meus que ficavam no sítio morreram. No início de 2010 o cachorrinho da minha mãe morreu e agora a Velda. É um sucessão de fatos desagradáveis intercalados por um dos períodos mais difíceis da minha vida que chega um momento em que por mais que você seja otimista você começa a pensar o pior. Primeiro foram os animais, quando todos morrerem serão as pessoas? É horrível pensar assim mas é meu inevitável diante das circunstâncias. Meu ano de 2009 não foi dos melhores e eu ansiei muito para boas mudanças em 2010 mas não é isso o que está acontecendo. Hám muito tempo estou me sentindo como uma pessoa que está nadando contra a correnteza, tentando não se afogar mas agora eu simplesmente vou deixar a correnteza me levar. Cansei de lutar, cansei de esperar que na próxima curva do rio houvesse uma salvação. Vou deixar a correnteza me levar. Para onde não sei, nem quero saber. Estou cansada demais para pensar sobre isso. Eu tinha muitos planos e num deles eu me via passeando com a Velda numa tarde tranquila de uma rua arborizada e calma. Ela, que era um animal dócil e assustado, merecia todo o carinho do mundo. Eu a encontrei na rua, ironicamente, atropelada. Levei-a para a casa e cuidei dela e em troca recebi o maior sentimento de devoção que se pode ter ideia. Ela simplesmente me adorava, me idolatrada e tinha um pavor enorme de ficar sem mim. Quando eu saía ela me seguia com seus olhinhos cheios de expectativa até o meu retorno. Nunca reclamava de nada, muito pelo contrário, ficava no seu cantinho, obediente, assustada com quase tudo. Era a carência viva. Nem latir ela latia. Na primeira casa que morei, quando era casada, os vizinhos se surprenderam quando souberam que eu tinha um cachorro em casa. Elas nunca ouviram um único barulho dela e ela já estava há meses comigo. O Fred, o outro vira-lata que peguei no começo de 2009, olha para os cantos da casa procurando por ela. Ele agora não tem mais com quem brigar, ficou sozinho. E eu me sinto mais vazia também. Perdi uma criatura que tinha um amor incondicional por mim. Tirando o amor da minha mãe, era o amor mais puro que eu tinha na minha vida. Fico pensando se na cabecinha dela ela me pedia para salvá-la como fiz na primeira vez. Mas eu não consegui e ela acabou se separando de mim, a coisa que ela mais temia. Foi tudo tão rápido que parece irreal. No próximo feriado iremos para o sítio mas o carro agora estará vazio. Ela sentiu a falta da Pipoca. Apesar de ser provoquenta ela gostava da Pipoca. O cachorrinho da minha mãe estava velhinho mas ela também sentiu a morte dela. E agora eu irei para lá e verei o cantinho dela vazio. Por quê? Por que se foram? E por que tão próximos um do outro? Existe tão pouco amor nesse mundo e o pouco que tem está desaparecendo. Como ser otimista? Vocês podem achar que estou exagerando mas não estou. Estou falando de amor verdadeiro, aquele que é igualado somente ao amor de pai e mãe. Os tais dos outros amores que são jurados geralmente desaparecem no meio do caminho em meio às suas promessas tão fáceis de quebrar. Apesar de tudo não me sinto mas tão mal como estava quando coloquei o post anterior. Com certeza é devido ao sentimento de indiferença em relação ao futuro que se abateu sobre mim. Não vou criar mais expectativas em relação a nada ou a ninguém. Não adianta mesmo. O que tiver que acontecer vai acontecer independente da minha vontade. Então chega, estou cansada de correr atrás e acabar sempre rodando em círculos. Até hoje não saí do ponto de partida. Agradeço pelas palavras lindas que vocês deixaram para mim. Beijos.

5 comentários:

  1. Eu não conheço você, mas é como se conhecesse, pois entro muitas vezes no seu blog, maneira de ter notícias sobre o Gerry. Já gosto de você simplesmente por ser fã dele. Só uma pessoa boa é fã dele.
    Sinto muito por tudo que vem te acontecendo, também tenho cachorros e sei o quanto essas criaturinhas são dóceis e amáveis. Meu nome é Tê e meu email te_as@hotmail.com. Estou sempre aqui com o ombro para os amigos
    |Um abraço afetuoso.

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  2. É Paty, entendo sua desesperança, seu desalento. Dizem que enqto a gente faz planos aqui na Terra, deus fica rindo da nossa tolice lá em cima. Justo qdo a gente pensa que não tem como piorar, vem a vida e dá um jeito, é foda... acho que a gente vive uma época em que se é obrigado a ser feliz, a ditadura da felicidade, o que antes era uma conquista, agora é uma obrigação. Parece que se nossa vida não anda como a dos filmes e comerciais, a nossa vida é que tá uma droga, como se o q a gente vê nos filmes e na tv fosse real. Vcs já repararam que nas novelas pra ter final feliz tem q ter um casamento? Mas que durante toda a novela, quem é casado só faz brigar o tempo todo? A incoerência da ficção. Nossa vida pode ser bem melhor se aceitarmos que às vezes ela vai ser uma merda mesmo, mas a merda passa tbém, e podemos viver períodos bem felizes e alegres; pra mim a vida é o pacote completo, só que tem horas que é duro de aguentar mesmo.
    Mas acredito fimemente, Paty, que as coisas sempre pioram antes de melhorar. Qdo a gente entra em crise com a vida ou com a gente mesmo, é sinal de que algo tem que mudar, alguma forma de fazer as coisas que a gente levava numa boa antes, agora não serve mais e precisamos encontrar uma nova forma. Pode ser coisas simples como mudar de padaria, ou coisas maiores como fazer uma viagem q se adia sempre, divorciar-se, mudar a forma de se ver o mundo, ou mudar de emprego, sei lá, mas algo tem q mudar.
    "Só ri das cicatrizes alheias quem ferida nunca sofreu no corpo" (Shakespeare)Não sei se te serve de alguma coisa isso q eu disse, Paty, mas se a barra pesar ainda mais, lembre-se que vc mora no nosso coração e não paga aluguel nem condomínio, que vc conquistou nossa amizade com sua doçura, com seu bom humor e seu caráter, e que mesmo que nunca mais vc escreva uma linha do conto do chefinho ou no blog (espero q isso não aconteça, pois sentiríamos muita falta!) amamos muito vc, pelo menos eu sim, pois várias vezes eu tava por baixo tbém e foi vc com sua verve e seu espírito q me levantou o moral. As fotos do Gerry não teriam a mesma graça sem seus comentários hilários.
    Não pense mesmo no futuro, ele não pensa na gente. Viver um dia de cada vez é fácil de falar, mas é bem difícil de se fazer, não é? Conte comigo nessa, vc não tá sozinha, amiga.
    Adri.

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  3. Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”. Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
    Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”. E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
    Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam. Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.
    Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.
    Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo.
    Rita

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  4. Carel disse:
    Paty.. que na vida já não chorou por um amigo peludo que tenha partido??? Eu perdi a conta, desde criança de quantos totós enterrei... entendo tua dor... e concordo que é um amor incondicional, puro, sincero... talvez,sim, um dos maiores do mundo...quanta lágrima derramada... Mas depois de algum tempo, tu vai sorrir, amiga... qdo tu começar a lembrar as boas coisas que viveu com ela...o tempo cura tudo...e infelizmente tem coisas que estão fora das nossas maõs. Não temos controle algum sobre determinadas coisas que acontecem e nos perguntamos as vezes: pque comigo?Mas isso tudo vai passar... Força Paty!!!!

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  5. Querida Paty: fiquei muito triste com o que tem te acontecido. Mas você precisa lutar, sempre, é a única forma de sobreviver. "Deixar-se levar pela correnteza", não, querida, é péssimo. Eu já passei por tantas coisas ruins, inclusive assassinato de uma pessoa querida, de forma brutal, incompreensão e maldade de minha própria família, coisas graves mesmo, de derrubar uma criatura! Eu não podia me dar ao luxo de cair em depressão, pois dependia de meu trabalho para viver. Então, procurei ajuda de um psicólogo, tive sorte, era um ótimo profissional, melhorei e nunca deixei de lutar.
    Entendo como as decepções podem cansar e até nos desejar desaparecer deste mundo, às vezes tão ingrato! Mas minha mensagem para você é a seguinte: te acho inteligente, com excepcional espírito de iniciativa, criativa - e os seus contos com o Gerry, hein? - eu até já sugeri que você os publicasse, lembra? E eu até te ajudaria com alguns textos sobre essa nossa paixão.
    Então, minha querida amiga virtual, não desista de lutar! Tenho certeza que você vai conseguir, pois é uma pessoa muito forte.
    um abraço carinhoso e solidário da Bel.

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